Porque escrevi o Livro MetaVitae®
Introdução | Minha jornada e o que me levou a escrever este livro
Alael Barreiro Fernandes de Paiva Lino
11/1/20254 min read


Minha jornada e o que me levou a escrever este livro.
Hospital Albert Einstein, São Paulo, 14 de agosto de 2003, por volta da 1h30 da manhã.
Eu estava flutuando entre o sono e a vigília — talvez sonhando, talvez orando. Sabia da gravidade da situação, da provável irreversibilidade do quadro. Estava sozinho em um dos quartos do 11º andar; a atmosfera era estéril, mas densa, pesada. Cada quarto do corredor representava uma história, uma família em sofrimento, algumas já em luto e, em todos, um ser humano sendo consumido por si mes-mo, apodrecendo a cada dia. O odor fétido permanece gravado em minha mente. Muitas vezes, ainda sinto o cheiro, e aquele momento retorna com força. Nunca vou esquecer isso.
De repente, fui despertado pela equipe da enfermaria, que trouxe o paciente em uma maca. A cirurgia de colectomia havia sido realizada. Como esperado, foram instaladas uma tela de reforço para a parede abdominal e uma bolsa de colostomia, além de um sistema de dreno fechado e bolsa squeeze. Fui informado de que tudo correra bem e de que as próximas 24 horas seriam decisivas.
Por algumas horas, senti um alívio tênue, quase inexistente. Tentava não me apegar a essa sensação. Esforçava-me para pensar de forma analítica e racional, mas, a todo 2 momento, a esperança surgia como uma espécie de ali-mento, uma energia vital. Era meu cérebro tentando me proteger.
As horas seguintes foram aterrorizantes. Na primeira visita da equipe de enfermagem, notaram traços de hemorra-gia na bolsa squeeze. É interessante como, em momentos assim, até o técnico tenta convencer a si mesmo: “O paciente acabou de fazer uma cirurgia muito grande, vamos ficar em observação.” Todos sabíamos que algo estava er-rado — ou melhor, todos sentíamos que algo estava erra-do.
Aos poucos, os traços tornaram-se manchas. As manchas se uniram, e eu assistia àquele quadro ser pintado ao vivo — uma figura surreal e assustadora, a plena materializa-ção do Juízo Final, de Hieronymus Bosch¹.
Ao verificar a bolsa, o enfermeiro acionou imediatamente a equipe cirúrgica. O paciente foi levado novamente ao centro cirúrgico. Uma nova anestesia geral em um indiví-duo debilitado, uma nova incisão sobre uma ferida recém-fechada. A remoção da tela instalada há poucos minutos. E o risco de não localizar a hemorragia. E então, a história de uma vida poderia acabar ali, sem nenhuma pompa ou ritual, sem preparação, sem dignidade — apenas acabar.
Descobri que existe um nível mais profundo do que a sensação de terror ou pânico. Até hoje, não consigo explicar 3 com clareza o turbilhão de emoções que senti naquele momento. Mas, de forma inesperada, uma pequena centelha de conforto começou a se manifestar: a sensação de que a morte não era a pior coisa que poderia acontecer com um ser humano. Sim, comecei, naquele instante, a aceitar a morte de meu pai como um ato de amor, de hu-manidade, de desapego material — um ser que estava se decompondo a cada dia, que sabia que nada mais poderia ser feito, e cujo sofrimento só aumentaria dali em diante.
Outra coisa que descobri, de forma avassaladora, foi que eu não morreria daquela forma. Não sabia qual seria meu destino — ninguém sabe —, mas daquela maneira, não seria. Eu não fazia ideia do que teria de fazer, do que teria de mudar.
Fiz uma consulta ali mesmo, no Einstein, com um dos médicos da equipe. A colectomia preventiva foi mencio-nada. O quê? Remover parte do meu intestino preventi-vamente? Ou isso... ou uma mudança total de estilo de vida. Bingo! Na saída da consulta, recebi um livreto com recomendações preventivas destinadas a familiares (filhos) de pacientes com câncer colorretal. Entre elas, destacava-se a dimi-nuição ou interrupção do consumo de carne vermelha nesses casos².
Meu pai, Alael de Paiva Lino, faleceu no dia 4 de março de 2004, em decorrência das complicações do câncer colorre-tal, após quatro anos de luta contra a doença. O câncer fora diagnosticado em 2000. Ele foi submetido a uma pri-meira colectomia e considerado curado por três anos. Seus hábitos, no entanto, permaneceram os mesmos: manteve o tabagismo, o consumo frequente de álcool e uma dieta rica em carne vermelha.
Após seu falecimento, o hospital entrou com uma ação ju-dicial contra o espólio, alegando falta de pagamento de algumas custas hospitalares. O valor da ação era gigantes-co. Depois de mais cinco anos de luta judicial, o espólio venceu a causa — mas o gasto com advogados, o desgaste emocional após o luto e a energia consumida foram enormes.
Além de tudo isso, minha fé ficou abalada. A sensação de inocuidade da minha existência corroborava com Schope-nhauer³: “Toda vida é essencialmente sofrimento, e quanto mais elevada for a consciência de um ser, mais ele sofrerá.”³
Não, Schopenhauer, você está errado — e eu vou provar isso a você!
Referências Bibliográficas
1. Bosch H. O Juízo Final [pintura]. c. 1482. Viena: Museu Acadêmico de Belas Artes; 1482.
2. Figueiredo IC, Jaime PC, Monteiro CA. Os fatores de riscos alimentares para câncer colorretal relacionado ao consumo de carnes. Rev Esc Enferm USP.2003;37(1):85-92.
3. Schopenhauer A. O mundo como vontade e representação. 2ª ed. Rio de Janeiro: Contraponto; 2005.